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Da Pontuação

Das coisas com que me anda a dar para embirrar é com o excesso de reticências e pontos de exclamação. Estas melancolias em três pontinhos, estes entusiasmos e indignações disfarçados em excessos de pontuação. Ultimamente tenho tropeçado em virgulas como tropeço em pedras da calçada: com a ligeireza de quem já se partiu e ganha reflexos para de imediato reagir evitando a queda. E se calhar é isso mesmo. A pontuação também nos marca a cadência dos dias e há quem ande por aí a tentar encontrar profundidade dentro de si e a disfarçar banalidades com entusiasmos que não os são.

E as perguntas, Deus meu, as perguntas. Cheias de pontos de interrogação, gritadas como se fossem respostas em si. Que se há coisa que sei é que as perguntas vêm de fininho, temendo sempre a resposta incerta, disfarçadas de vírgulas e pontos finais, sussurradas no papel e nos ecrãs.

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Cabeça Dura

Tenho a cabeça grande e, venho a descobrir agora já pouco nova, tenho-a dura também. Ou assim parece. Depois de uma constipação-que-vira-alergia um misto de exposição a correntes frias e pouca roupa, contacto com vírus e árvores da Avenida em apogeu púbere, o fluxo de cérebro liquidefeito estancou. Mas continuo entupida. Curada, mas sem o estar, com uma voz anasalada que me deixa com pronúncia de cabeleireira de Cascais.

Este mal, que em muito ultrapassa os anteriores – alergias e constipações tratam-se com as drogas que me forram um dos armários cá de casa – deixa-me apreensiva. Há aparentemente partes do meu cérebro que não se diluem. Que os vírus não vergam, nem as hormonas exacerbadas da flora envergonham.

Parece que este cérebro de maria-vai-com-as-outras-la-donna-e-mobile tem um fundinho que se recusa a ceder.

E esta, hein?

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Palavras a mais

Não é o olhar dela para o outro. Aquele olhar que diz tudo sem palavras. O olhar a que carinhosamente chamo de ‘pateta’ e que dispensa palavras lamechas e repetidas a toda a hora. É o olhar do que os vê, perfeitos juntos. Do que os sente felizes. Do que se sente inútil e insuficiente. Um sentimento, sei-o, pior do que aquele que qualquer morte pode trazer.

 

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A Lápis

Fui a uma mercearia de Campo de Ourique. Daquelas que cheiram a mercearia e em que o merceeiro me trata por “menina” enquanto escolhe as clementinas mais doces. O merceeiro fez-me a conta a papel e lápis, com aquela precisão de quem despreza máquinas de apoio a neurónios preguiçosos. Fixei-me no lápis. Muito afiado e pequenino. Um lápis que não era novo e que vive na certeza de que vai ser usado até que o carvão deixe de ser suficiente para desenhar números.

E lembrei-me do meu avô. E dos papelinhos escritos a lápis, desses lápis que duram até que o carvão se esgote em traços. E lembrei-me da forma como punha a língua de fora enquanto escrevia, em letra muito pequena e bem desenhada. A mim, que trocava de lápis a cada trimestre, abandonando os que roía, os que já não reluziam de novos, esta fidelidade fazia-me espécie. Ainda hoje me surpreende. Não herdei os lápis – algum ficou por usar até ao fim. Não herdei a paciência nem a letra pequena e bem desenhada. Ficou-me apenas a involuntária língua de fora sempre que me deparo com tarefas que exijam concentração.

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A Preto e Branco

Gosto de contos infantis. E de contos populares. Não o digo como se tivesse descoberto esta paixão recentemente. Tenho fortes e reconfortantes memórias da voz compassada da minha avó a ler-me contos para dormir. No colégio escolhia invariavelmente a ‘Leitura’ como passatempo para as tardes livres de sexta-feira. E na biblioteca escura, com o cheiro inconfundível a histórias já muito contadas, deliciava-me com a voz da Amélia desfiando histórias de príncipes e princesas e castelos com terríveis torres de ferro.

Gosto dessas histórias porque são simples. Nelas o Bom é bom e o Mal é mau. De uma forma clara, mesmo que as personagens se transvistam por umas linhas. O lobo mau é mau e ninguém perde tempo a tentar explicar a sua relação com os pais ou porque é que nunca se integrou na lógica social das criaturas do bosque encantado.

Por diversas e variadas razões dei por mim a percorrer alfarrabistas em busca dos livros que encheram a minha infancia. Tendo encontrado alguns e reencontrando estas vidas tão simples, espartilhadas nas duas reduzidas dimensões do papel amarelado, e interrogo-me quando foi que me compliquei, ou que a vida me complicou. Quando deixaram as histórias de ser a preto e branco e passaram a ser feitas de pantones infinitos de cinzentos e desculpas e passados irrelevantes para a história que quero contar.

 

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ADD

Escreve-se ‘tao-tao’ ou ‘tau-tau’?

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Ao Areeiro

Vejo a estátua de Francisco Sá Carneiro e penso que se tivessem assassinado o Obama, ele seria o novo Kennedy.

As grandes esperanças têm dois fins: ou terminam abruptamente muito antes de as podermos provar, tornando-se eternos mitos; ou de grandes esperanças passam a realidade falível, diluindo-se em desilusão.

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Política

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As coisas não estão bem. A troika, Governo, o Presidente, desemprego, enfim..bom… pois… sim… temos de mudar e tal. Mas o que realmente me anda a chatear são as políticas alfandegárias e taxas aduaneiras.

Essas grandessíssimas empata-fodas, grande obstáculo ao intenso prazer que advém do acto de comprar online.

(imagens tiradas daqui, daqui e daqui)

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As Palavras dos Outros

Os Velvet Underground tocavam Who Loves The Sun, numa ironia do iPod, no instante exacto em que parou em frente ao jazigo da família. Não tinha chave, nem lhe tinha ocorrido pedi-la. Ninguém pede uma chave para falar com quem já morreu. Mas esta certeza deixava de o ser enquanto contemplava a porta de ferro castanha. Não ia falar com uma porta. Não podia esperar da porta uma resposta mais assertiva da que receberia dos que eternamente dormiam lá dentro. Suspirou. Talvez fosse mesmo um disparate. Os Velvet continuaram com Sweet Jane. Perguntou-se se ela gostava desta música e soube que nunca ia saber a resposta. Talvez. Se não ia saber uma coisa tão simples, como podia esperar uma resposta para qualquer outra questão. Olhou para a porta e pensou nos que ali habitavam. Não tinha conhecido ninguém, excepto, claro, aquela com quem vinha falar. Sentia que conhecia o Avô, mas sabia que as palavras de outros são sempre insuficientes para nos apresentarem alguém.

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